Localiza quer sair ilesa (outra vez) da neblina econômica
Para não perder com a desvalorização na venda de carros usados, a companhia usa mesma tática adotada durante a última crise
Localiza: depreciação de usados não deve atrapalhar desempenho da empresa, dizem analistas
São Paulo – A desaceleração da economia atual pode até lembrar, em alguns pontos, os desafios vividos pelos empresários em 2009, época de crise mundial. Mas, para a Fator Corretora, a estimativa é que tempo nebuloso nenhum deve atrapalhar o desempenho da Localiza.
“A Localiza aprendeu muito bem como se proteger do risco da volatilidade do preço dos carros na crise de 2009 e está usando o mesmo método este ano, o que tem dado certo”, afirmou um analista da Fator.
O jeito da Localiza não perder com a alta de preços dos carros novos e a depreciação dos usados envolveu duas premissas, uma setorial e outra estratégica. A primeira tem a ver com a compra de novos. A empresa, como todos os brasileiros, ganhou uma ajuda do governo nessa parte com a redução de IPI para a compra de carros zero – a mesma ajuda disponível nos tempos da última crise.
Mesma receita
A estratégica foi pensada, e também aplicada em 2009, com o intuito de não perder com a desvalorização dos usados. Em vez de vender os modelos por meio de intermediários, a Localiza se desfez dos carros em seus 71 pontos de vendas espalhados pelo país (ideia seguida pela companhia desde 1991 já com esse objetivo).
“Se vendêssemos por meio de terceiros, perderíamos 15% no preço de venda, sendo que o custo com as lojas próprias equivale a 10%, ou seja, saímos no lucro”, diz Roberto Mendes, diretor de finanças e relações com investidores da Localiza.
No ano passado, a empresa comprou 59.950 veículos novos, a 1,786 bilhão de reais, e vendeu 50.772 carros usados por 1,468 bilhão de reais. Como resultado, a Localiza teve um investimento em ativos de 308 milhões de reais.
“A diferença do cenário de hoje em relação ao da crise de 2009 é que a desaceleração de preço dos usados já está se recuperando, e a redução de IPI nos deu um tempo maior para que renovássemos nossa frota sem prejudicar o caixa da empresa”, afirma Mendes.
Potencial de crescimento
Além do cuidado com o ajuste de contas, a Localiza ainda opera em um setor de serviços com grande potencial de crescimento – e margens robustas. Quase 70% da margem ebitda da companhia provém da receita com aluguel de frota, e o restante, do aluguel de carros. E há muito espaço para crescer, segundo Roberto.
De acordo com dados da empresa, cerca de 4,2 milhões de carros são hoje de empresas brasileiras de diversos portes e ramos de atuação. Desse total, apenas 245.000 são veículos alugados, ou seja, eles representam cerca de 5% da frota empresarial do país. Esse percentual é bem maior em países como Inglaterra (46%), França (24,5%) e Alemanha (19%).
“Esse potencial de crescimento, que deve ser acelerado com Copa e Olimpíadas no Brasil, também estimula nosso otimismo com relação à empresa”, diz o analista da Fator Corretora.
Historicamente, a Localiza cresce cinco vezes o PIB do país, que teve sua previsão reduzida para este ano. Mas, com a estimativa de uma retomada da economia no país para o ano que vem, a companhia diz também estar investindo forte em treinamento de pessoas e renovação de sistemas. “A ideia é investir para continuar a crescer com o país”, diz Mendes.